sábado, 14 de abril de 2007

"Porque o errado também dá certo!"

O que seria das estórias que temos para contar se não fosse o que nos acontece de 'errado'? Contar que acordamos às seis da manhã, tomamos banho, saímos na hora certa que deveríamos sair e fomos assistir aula ou trabalhar, voltamos para casa e às dez em ponto estávamos na cama para começar o dia seguinte com uma rotina exata, sem erros, tropeços, xingamentos, raivas e paixões, definitivamente não teria graça. O fato é que se não houver quem nos atrase, o despertador que não toca, o chuveiro que não funciona direito e deixa a água fria às vezes, o motorista do carro ao lado que, ao pararmos no sinal, olha e ri das nossas cantorias empolgadas, e mesmo aquele professor chato, daquela matéria que se odeia, mas que precisamos aguentar durante duas horas toda terça e quinta logo depois do almoço, a vida seria monótona demais. Precisamos xingar e elogiar. Meio do caminho é difícil engolir. Não falo em equilíbrio - que é sempre bom e faz bem - mas falo em nem cheirar e nem feder. Falo daquela classificação chata e constante quando respondemos à pergunta do 'como foi o seu dia?' com um 'nada demais'. É o que mata a empolgação de qualquer pessoa. Então chega o errado e muda tudo! Precisamos matar a aula do tal professor chato para sentar e conversar com um amigo que não víamos há algum tempo. Precisamos de um palavrão na única hora em que não poderíamos dizê-lo. E o que seria das nossas estórias lindas e românticas com aquele cara maravilhoso se não fossem todas as merdas que falamos no exato momento em que deveríamos nos aparentar seguras, fortes e mostrar, afinal de contas, que não estávamos nem aí por ele estar do nosso lado e muito menos por dar mole? Todas essas estórias perderiam parte da graça se não fosse o exato momento em que ele nos pegou olhando-o com delicadeza ou tesão - que seja! - mas nos surpreendeu olhando-o com exatamente a cara do que estávamos sentindo no momento e procuramos esconder na maioria das vezes e para grande parte das pessoas. É no 'errado' que passamos a ser nós mesmos sem perceber. O primeiro beijo nada comportado. O momento em que chegamos em casa, tiramos - finalmente! - os sapatos apertados, colocamos uma música animada, pulamos e gritamos como se estivéssemos em um show. E quando decidimos enrolar um pouco mais no banho mesmo atrasados para sair. Quando provocamos alguém em segredo, na frente de todo mundo e - ainda bem - ninguém nota. No dia em que marcamos de chegar às onze em casa e aparecemos às quatro da manhã. No dia em que dissemos estar num lugar estando em outro para as nossas mães. O primeiro porre. O primeiro choro pelo cara que achávamos que nunca esqueceríamos. É nessa hora, finalmente, que percebemos que o errado é necessário e sempre depende do referencial. Já disse de forma brilhante o meu primo de nove anos querendo matar sua aula de piano: "porque o errado também dá certo!". Sem se dar conta da profundidade do que falava, assim, de brincadeira...