O que seria das estórias que temos para contar se não fosse o que nos acontece de 'errado'? Contar que acordamos às seis da manhã, tomamos banho, saímos na hora certa que deveríamos sair e fomos assistir aula ou trabalhar, voltamos para casa e às dez em ponto estávamos na cama para começar o dia seguinte com uma rotina exata, sem erros, tropeços, xingamentos, raivas e paixões, definitivamente não teria graça. O fato é que se não houver quem nos atrase, o despertador que não toca, o chuveiro que não funciona direito e deixa a água fria às vezes, o motorista do carro ao lado que, ao pararmos no sinal, olha e ri das nossas cantorias empolgadas, e mesmo aquele professor chato, daquela matéria que se odeia, mas que precisamos aguentar durante duas horas toda terça e quinta logo depois do almoço, a vida seria monótona demais. Precisamos xingar e elogiar. Meio do caminho é difícil engolir. Não falo em equilíbrio - que é sempre bom e faz bem - mas falo em nem cheirar e nem feder. Falo daquela classificação chata e constante quando respondemos à pergunta do 'como foi o seu dia?' com um 'nada demais'. É o que mata a empolgação de qualquer pessoa. Então chega o errado e muda tudo! Precisamos matar a aula do tal professor chato para sentar e conversar com um amigo que não víamos há algum tempo. Precisamos de um palavrão na única hora em que não poderíamos dizê-lo. E o que seria das nossas estórias lindas e românticas com aquele cara maravilhoso se não fossem todas as merdas que falamos no exato momento em que deveríamos nos aparentar seguras, fortes e mostrar, afinal de contas, que não estávamos nem aí por ele estar do nosso lado e muito menos por dar mole? Todas essas estórias perderiam parte da graça se não fosse o exato momento em que ele nos pegou olhando-o com delicadeza ou tesão - que seja! - mas nos surpreendeu olhando-o com exatamente a cara do que estávamos sentindo no momento e procuramos esconder na maioria das vezes e para grande parte das pessoas. É no 'errado' que passamos a ser nós mesmos sem perceber. O primeiro beijo nada comportado. O momento em que chegamos em casa, tiramos - finalmente! - os sapatos apertados, colocamos uma música animada, pulamos e gritamos como se estivéssemos em um show. E quando decidimos enrolar um pouco mais no banho mesmo atrasados para sair. Quando provocamos alguém em segredo, na frente de todo mundo e - ainda bem - ninguém nota. No dia em que marcamos de chegar às onze em casa e aparecemos às quatro da manhã. No dia em que dissemos estar num lugar estando em outro para as nossas mães. O primeiro porre. O primeiro choro pelo cara que achávamos que nunca esqueceríamos. É nessa hora, finalmente, que percebemos que o errado é necessário e sempre depende do referencial. Já disse de forma brilhante o meu primo de nove anos querendo matar sua aula de piano: "porque o errado também dá certo!". Sem se dar conta da profundidade do que falava, assim, de brincadeira...
sábado, 14 de abril de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
16 comentários:
é verdade. nunca tinha parado para pensar, mas o errado dá certo mesmo às vezes...
o que seria do certo, se não fosse o errado pro certo concertar, né?
tái, gostei disso =)
pois é... e além disso, rende as nossa histórias bloguísticas...
hehe
bjo
é fazendo coisa errada que obtemos as melhores horinhas dessa vida medíocre :}
Às vezes eu acho melhor errar do do que acertar. Vc tbm tem essa impressão? acho que é meu espírito adolescente transgressor que não me larga, não me deixa.
Vai vendo, Cissinha.. tamanha velha como eu ainda pensando como adolescente! tsc.
Beijo!!
* Já fiz bibliotecnomia, acredita?
Fiz por 3 semestres e aceitei que meu amor por numeros era maior que por livros.. rs.
beijo de novo.
Ahh... sem comentários. sem palavras. a gente sempre consegue viver nesse paradoxo atônito que é a vida. sauhwsuawhsuhaws
abração
mas é claro que o erradso da certo
rssss
É... Dá certo... Às vezes...
=P
É aquela velha história que não daríamos valor ao bonito se não ouvesse o feio; não valorizaríamos o que dá certo se nunca desse errado. Né?! E viva os dois lados da moeda! :) hahahahahaha! Muito bom o seu texto, lindaaaaaaa! Queria eu achar tempo e inspiração em pleno sábado para filosofar assim... ^^ minha amiga vai longe! te amo, bolinho! saudade! :*
e atualizar aqui, rola?
:}
Como diria uma amiga minha, "mais vale um gosto diferente do que um carro de abóbora"... eu poderia até tentar enumerar outra boa conseqüência dessa imprevisibilidade da vida (aqui denotada como o "errado"), mas, ah... acho que você já disse tudo ^_^
PS: É realmente fantástico que também goste de Lispector, dona Cissa. Eventualmente, tentarei apresentar-lhe uma cantora de sobrenome Spektor.
Passando para deixar votos de uma ótima semana!
Carai véi. A-mei esse seu texto Cissa. Na boa, já o tomei como o meu texto preferido seu =) Nossa, gostei MUITO! Como me identifiquei com ele... sem noção... Agora eu sei que álguem me entende =D Vc esse texto foi pra mim que nem as músicas do Renato pra vc sabe? Aquela coisa que vc sempre sente, daí um dia álguem coloca em palavras... Nossa, PRECISO mostrá-lo ao Djalma (será que agora ele vai entender minha lerdeza??? huhauahuahuahua)!
Beeeeijo!!
ps: que venha o Cordel! =)
correção: "vc (n)esse texto foi pra mim..."
Aaaaaaaaaaaaaaaaargh!
Por que somes tanto, criatura? rs. A culpa é da UnB? rsrs. Beijooo
Sinto que a minha visita despretenciosa se tornará em vício pelo jeito que você escreve...
Bjitos!
Postar um comentário